corte do imperador séllassié. foto de haygaz boyadjian.
antologia da fotografia africana
texto > paulo rogério
"Eram aproximadamente sete horas da manhã, do horário
ocidental, quando o vôo ET501 sobrevoava as colinas verdes dos arredores de
Adis Abeba, na região central e montanhosa da Etiópia. O país, situado na
região mais oriental do continente africano, é o segundo mais populoso e o mais
diferente entre todos.
Foram treze horas na aeronave da Ethiopian Airlines, mas
parecia ter sido menos. O atendimento a bordo faz jus à fama de que a empresa
área é a melhor do continente e uma das melhores do mundo. Os 11 mil km de
distância de Washington D.C para a capital etíope ficam suaves quando se tem um
bom atendimento, com tripulantes vestidos de roupas tradicionais, e um som de
bordo com o melhor do Ethio-Jazz, a versão etíope da música criada pelos
afroamericanos.
A Etiópia é pioneira e excêntrica em muitas coisas, a começar
pelo calendário e horário. Enquanto no resto do mundo o ano é 2012, na Etiópia
tenho que modificar o calendário do meu celular para 2007. O país, até onde se
sabe, é o único no planeta que não usa o sistema ocidental de contagem dos
anos. Lá também a primeira hora do dia não é 1h da manhã, mas somente quando o
sol aparece, dando mais um tom diferenciado à nação que ainda é uma grande
incógnita para a maioria dos brasileiros, que só ouvem falar do continente
africano quando acontece alguma tragédia ou golpe militar.
Já no aeroporto em Washington D.C., não consigo disfarçar
meu deslumbramento em ver tantas cores, olhares e sons diferentes do que
conhecemos no Brasil. São os etíopes voltando para sua terra para turismo,
negócios ou simplesmente visitar um parente. Eu deveria estar acostumado com a
mágica cultura dos etíopes. Morar um ano em Washington D.C. é mergulhar na
cultura etíope mesmo sem querer.
A capital estadunidense é o local onde se concentram mais
etíopes fora da Etiópia. Dados extraoficiais chegam a dizer que os etíopes e
seus descendentes são mais de 100 mil pessoas nos arredores da capital, o que
envolve partes do estado de Maryland e Virgínia. No centro da cidade há até uma
rua denominada Little Ethiopia (Pequena Etiópia) que reúne vários restaurantes,
cafés, clubes e mercados com produtos etíopes. Ao andar na rua, você se
transporta para Adis Abeba, pois todas as fachadas estão escritas em Amaraico
(não confundir com Aramaico), que é o idioma majoritário no país. Eles dominam
também o sistema de táxi da cidade. Se você pegar um táxi e não for conduzido
por um etíope, você não foi a Washington D.C. É como ir a Londres e não ver um
indiano!!"