culturas negras no mundo atlântico



sound system em salvador; luta de arena em dakar; performances no harlem, ny; carnaval em londres; cafés literários na martinica; emancipation celebration em trinidad; salões de beleza afro em paris; artes visuais em luanda; festival de vodum em uidá. a terceira diáspora é o deslocamento virtual de signos - discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, ícones - provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra. potencializado pela globalização eletrônica e pela web, coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas. uma primeira diáspora acontece com os deslocamentos do tráfico de africanos; uma segunda diáspora se dá pela via dos deslocamentos voluntários, com a migração e o vai-e-vem em massa de povos negros. diásporas_estéticas em movimento.
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antropóloga, viajante e fotógrafa amadora, registro cenas do cotidiano em cidades negras das américas do norte e do sul, caribe, europa, áfrica e brasil, sobre as quais pesquiso, escrevo e realizo mostras audiovisuais. meu porto principal é salvador da bahia onde moro. Goli edits the blog www.terceiradiaspora.blogspot.com from Bahia Salvador, is a traveller and amateur photographer who recorded scenes of daily life in the atlantic cities about which she writes and directs audiovisual shows. She has a post-doctorate in urban anthropology and is the author of the book "The Plot of the Drums - african-pop music from Salvador" and "Third Diaspora - black cultures in the atlantic world".

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

fragmentos europeus

“Nem todos os negros querem voltar para a África. Há uma canção de reggae sobre isso: ’se você quiser ficar, fique, mas eu vou para a África’. Há outras maneiras de voltar para a África, de acordo com a justiça ou a verdade. Acredito em todas essas coisas, mas sou muito crítico em relação aos que querem inventar a África da sua própria imaginação, em vez de olhar como a África é, e de como precisa de nós da diáspora”. Paul Gilroy, sociólogo inglês. In A Tarde, 7/8/2006

“Podemos apenas repetir que a raça é uma coisa que nós inventamos e que hoje o melhor modo de reduzir o que sabemos sobre a biodiversidade humana ainda é o slogan ‘todos parentes, todos diferentes’”. Guido Barbujani, geneticista italiano. In A invenção das raças, 2007, p.165.

“Sonhei esta noite que estava em Paris. E que ali recebia Macunaíma. Havia grandes recepções, uma festa na Embaixada do Brasil, com todas as parisienses fantasiadas de baianas, as norte-americanas de Carmem Miranda e as brasileiras de parisienses”. Roger Bastide, pensador francês. In Sociologia, 1983, p. 78.

parte 1


da ribeira

largo da ribeira, 2008

Nasci no bairro da Ribeira, não em Lisboa ou Luanda, em Salvador da Bahia. É particular a Ribeira. Mas o bairro-mãe sempre soa singularmente. Os banhos de mar aos domingos acompanhados das batucadas na praia do Bogari eram tão envolventes quanto as noites de terça-feira quando a Filarmônica Carlos Gomes da rua Marquês de Santo Amaro soava como bálsamo para os ouvidos eruditos. Nos anos 60, aquela sonoridade suave era o contraponto da música da Jovem Guarda que soava estridente nas radiolas, animando as tardes de fim de semana.

O cotidiano na Ribeira incluía então filarmônicas, banhos de mar + festas de largo e feiras de mariscos na beira de cais do Recôncavo. Vendedores de livros iam de porta em porta: mitologia grega, enciclopédias, fábulas. O Egito fica na África? O Jornal da Bahia vinha diariamente. Nas rádios, MPB; na TV Chacrinha e Silvio Santos; no cinema, faroeste. No Brasil, ditadura, Jovem Guarda, Tropicália. No mundo, contracultura, black power, novidades tecnológicas.

Era longe a Ribeira. Havia o bairro, a cidade e a longínqua praia de Itapuã, que já foi local de veraneio para algumas famílias locais. Para chegar a Itapuã era preciso fazer uma longa viagem, contornando as duas pontas da península, que desenha de um lado, a Baía de Todos os Santos e de outro, o Oceano Atlântico. É linda a Ribeira. Há beleza em suas muitas praças mal urbanizadas, resquícios de parques, becos que desembocam no mar.

É diferente a Ribeira. Não era todo dia que se ia à cidade, ou seja, ao centro velho de Salvador. Aguardar o ônibus-lotação, ver a Igreja do Bonfim, subir o Elevador Lacerda, passear na rua Chile, lanchar na Lobrás... Esta sim era uma movimentação verdadeiramente urbana, bem diferenciada daquele ar interiorano que o bairro ainda guarda.


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